8.5.13


Movidos pelas exigências da vida, umas vezes por obrigação, outras por prazer, não acedemos, frequentemente, a uma compreensão profunda dos diversos mecanismos de percepção do mundo. Na mudança constante de um para outro lugar, daqui para ali, raramente nos lembramos de olhar a magnífica tela celestial que se esconde por detrás dos clarões amarelados que envolvem os centros urbanos. Sorte a dos pescadores que a vêem na sua plenitude todas as noites; sorte a de muitos outros, dirão eles, que de manhã lavam a cara sem a ferir com as mãos calejadas pela vida.
A ausência de luz artificial, provocada por um corte energético, abre sobre a minha cabeça a dimensão majestosa do espaço celeste. O quadro pontilhista revela-se timidamente e o meu campo perceptivo, agora livre de toda a "poluição luminosa", mergulha na profundidade infinita do universo, cada vez mais nítido. Os fluxos do pensamento atropelam-se e trazem-me de volta à varanda de casa, mas o rasto deixado por uma estrela cadente resgata a mente aturdida, de novo, para o infinito.
Acendo um cigarro e regresso ao devaneio contemplativo.
Não há pontos de fuga no Universo!

Nazaré, 23 de Abril de 2009