Quando as coisas chegam a estes pontos, deve exigir-se aos profissionais da cobrança de impostos, neo-liberalistas absolutamente dedicados à causa, que expliquem qual é, afinal, o papel do Estado. (1)
30.11.12
29.11.12
28.11.12
27.11.12
papel vs. digital
"Na época em que, com razão, cada qual se interroga sobre a liberdade de expressão e o papel político dos media na nossa sociedade, parece desejável que nos interroguemos também sobre a liberdade de percepção do indivíduo e as ameaças que a industrialização da visão e da audição constituem para essa liberdade; a poluição sonora é cada vez mais acompanhada por uma discreta poluição da nossa visão do mundo pelos diversos meios de comunicação (...) Se o desejo de conhecer o Mundo é hoje ultrapassado pela necessidade de o explorar, não deveríamos, tanto aqui como na ecologia, por exemplo, tentar limitar esta exploração excessiva da espessura óptica da realidade sensível?... Por vezes basta olhar de outra maneira para ver melhor."
VIRILIO, Paul, "A Velocidade de Libertação", 2000.
Relógio D´Água, p. 131-132
VIRILIO, Paul, "A Velocidade de Libertação", 2000.
Relógio D´Água, p. 131-132
26.11.12
centro de alto saneamento
22.11.12
21.11.12
19.11.12
18.11.12
a ignorância não é uma benção
O Analfabeto Político
O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa nos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, da renda da casa, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e incha o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, o assaltante e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, reles, o corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.
BRECHT, Bertolt, "Selecção de Poesias, Textos e Teatro", 1999. Dinossauro, pp. 10-11
O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa nos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, da renda da casa, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e incha o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, o assaltante e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, reles, o corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.
BRECHT, Bertolt, "Selecção de Poesias, Textos e Teatro", 1999. Dinossauro, pp. 10-11
15.11.12
14.11.12
greve geral
ORWELL, George, "1984", 2012. Antígona, p. 25
Nesta distopia literária, Parsons acabaria por ser, alegremente, denunciado à Polícia do Pensamento (uma espécie de PIDE ao serviço do Big Brother) pelos seus... filhos!
12.11.12
10.11.12
heil merkel!
Peter Sloterdijk, um filósofo alemão contemporâneo, diz que "é soberano quem é capaz de ameaçar de maneira credível".(1) Ora, quem não é soberano é submisso. O Sr. Marques Mendes e companhia, no cúmulo da prostração, defendem que o povo português deve saudar a frau Merkel (2) na visita relâmpago que a chanceler alemã fará ao nosso país na próxima Segunda-feira.
Os Carapaus Enjoados concordam!
(1) SLOTERDIJK, Peter, "Cólera e Tempo", 2010. Relógio D´Água, p. 94
Os Carapaus Enjoados concordam!
(1) SLOTERDIJK, Peter, "Cólera e Tempo", 2010. Relógio D´Água, p. 94
8.11.12
parangonas
SLOTERDIJK, Peter, "Ensaio Sobre a Intoxicação Voluntária", 1999. Fenda, p.15
uma espécie de país
Uma rémora a transportar um tubarão através dos oceanos? Não conheço tal comensalismo. Talvez num mundo onde os carapaus pesquem gaivotas, no qual os políticos estadistas se desloquem às urnas para escolherem o povo que melhor se adequa aos seus caprichos; onde as falésias embatam com estrondo no mar das ondas e no qual seja reconhecido mérito histórico aos carrascos geocentristas de Copérnico. Aqui, cada flúmen desagua nas nascentes e os objectos não possuem pessoas. A mobilização das massas é constante. Neste mundo que o devaneio desvirtuou, certamente não estaria a escrever este texto, mas ele a mim.
7.11.12
5.11.12
efeito mota d'água
Se, por via das circunstâncias acima descritas, vir alguém a desesperar por uma refeição, ajude o pobre diabo a encontrar o caminho do pão.
4.11.12
no limite de uma narrativa
Movidos pelas exigências da vida, muitas vezes por obrigação, algumas por prazer, já não acedemos, frequentemente, a uma compreensão profunda dos diversos mecanismos de percepção do mundo. Na mudança constante de um para outro lugar, daqui para ali, cada vez nos resta menos tempo para contemplar a dimensão telúrica de um mundo subjugado à hegemonia da cultura técnica que nos “exige” que vivamos em permanente aceleração.
O ser humano é por excelência um contentor que acumula a informação que está dispersa e que, através da técnica, pretende aperfeiçoar o seu desempenho ou competências. Se o conhecimento total da informação é atribuído historicamente pelo homem à divindade enquanto entidade perfeita na qual o Universo é instantâneo, a tecnociência esforça-se por criar o elemento que contenha em si toda a memória e informação ao mesmo tempo e numa escala global. A partir do momento em que as novas tecnologias nos permitem criar a ilusão de emancipação das condições de vida na Terra (hic et nunc), passam a ser o complemento que, através da memorização instantânea, nos permite sintetizar vários tempos num só tempo – a confirmação da ubiquidade tão desejada. Trata-se de uma espécie de memória em constante expansão que simula a vida na terra e que adapta o corpo - a carne que limita o pensamento - a condições de vida exteriores à grandeza geofísica, substituindo-o por outro corpo (espectro) que já não se situa numa narrativa histórica. Se a informação dos acontecimentos não é organizada ou armazenada espacialmente, implica que estes também não se encontram exclusivamente num contexto histórico-geográfico eminentemente localizado. Circulam antes, um pouco por toda a parte e simultaneamente em lado algum.
Recentemente o fenómeno das redes sociais originou uma das maiores mobilizações gerais de que há memória e, auxiliado por dispositivos cada vez mais versáteis e portáteis, consome gradualmente uma parcela considerável do tempo no dia-a-dia dos utilizadores. Se por um lado estas funcionam como veículos excepcionais de informação, de comunicação e de propaganda (comercial ou não), por outro assistimos, no plano individual, ao fim anunciado das esferas privadas - um dos exemplos mais bizarros que encontramos com alguma frequência, é a publicação de diálogos entre duas pessoas que habitam a mesma casa. A casa, centro dos universos singulares, abre-se deste modo à dimensão exterior da ausência dos silêncios e das representações. Talvez porque o medo da privação de contactar ou ser contactado (nomofobia), consequência dos novos hábitos sociais, alastra a cada dia que passa e os sintomas dessa privação de comunicação compulsiva possam ser equiparados à ressaca de alguém viciado em nicotina, por exemplo - apesar do exagero aparente na comparação, é bom relembrar que já existem clínicas especializadas no tratamento de pacientes viciados no mundo virtual (Internet Addiction Disorder), nas quais o Facebook ocupa um lugar de destaque. Mas que segredo esconderão estas plataformas que permitem que qualquer pessoa, independentemente das suas limitações técnicas, possa partilhar e receber informação com tamanha facilidade? Que ferramentas são essas que aglomeram tanta gente, desde os mais incautos aos mais conservadores? Nada mais do que a possibilidade imediata de cada um, desde o cidadão anónimo da aldeia rural à figura pública da cidade cosmopolita, escrever e ilustrar a sua história na primeira pessoa e em tempo real. Em suma, tornar-se “googlável”!
Se considerarmos que tudo o que é conhecido pode ser analisado a partir do binómio positivo/negativo, a revolução tecnológica em curso é talvez, de todas as revoluções da História da humanidade, aquela cuja absorção pacífica por parte dos usuários, gera mais discussão sobre os ganhos e as perdas inerentes ao seu progresso, mas, paradoxalmente, a que suscita também alguma desconfiança nos indivíduos que foram apanhados no meio deste processo.
Marc Prensky no seu texto “Digital Natives, Digital immigrants” de 2001, propôs uma reflexão interessante sobre a descontinuidade sociocultural a que assistimos no decurso das últimas décadas, impulsionada pela tecnologia. Nessa tese, defende que a metodologia do ensino tradicional, concebida para educar mediante os pressupostos de antigamente, já não é viável para as gerações mais recentes que crescem rodeadas de computadores, de videojogos, de leitores de música e de toda uma panóplia de gadgets (Nativos Digitais). Mas estará o sistema educativo, dirigido e projectado por elementos que não nasceram na era digital (Imigrantes Digitais) preparado para ensinar indivíduos que funcionam melhor quando estão ligados à rede (cibercultura), que estão habituados a desempenhar várias tarefas simultaneamente e que preferem a comunicação interactiva feita a partir de gráficos e de hiperligações em detrimento dos “textos enfadonhos”? Não obstante as boas intenções de alguns Estados e o contributo inegável da simplificação de várias plataformas colocadas à disposição das massas, ainda estamos muito distantes dessa aproximação. Basta recordar que, sob a égide da tecnocracia digital, o (subaproveitado) computador Magalhães foi distribuído nos últimos anos pelos alunos nas escolas portuguesas e que apenas mais tarde se pensou na formação dos professores que, nalguns casos mais inflexíveis, continuam a proibir a utilização do “brinquedo” na sala de aula.
As vantagens da velocidade na difusão e apreensão da informação são inequívocas, no entanto resultam sempre de um projecto que o homem da tecnociência constrói progressivamente, mas que não controla o seu efeito catalisador ao qual os demais têm “obrigatoriamente” que se adaptar. Hoje, habitamos uma espécie de megalópole virtual povoada por uma sociedade espectral obcecada em ganhar tempo ao tempo e espaço ao espaço. Com todos os ganhos que reconhecemos na tecnologia, ignoramos quase sempre a perda das memórias localizadas e das pequenas histórias que, pouco a pouco, cedem lugar à impessoalidade e à descaracterização dos cidadãos entregues ao anonimato, ao sedentarismo e cada vez mais refundidos na autarcia com total desprezo pelo real.
2.11.12
referencial
"O pensar é do ser, na medida em que o pensar, apropriado e manifestado pelo ser, pertence ao ser. O pensar é, ao mesmo tempo, pensar do ser, na medida em que o pensar, pertencendo ao ser, escuta o ser. Escutando o ser e a ele pertencendo, o ser é aquilo que ele é, conforme a sua origem essencial."
HEIDEGGER, Martin, "Carta Sobre o Humanismo" (5ª ed.). Guimarães Editores, p. 34
HEIDEGGER, Martin, "Carta Sobre o Humanismo" (5ª ed.). Guimarães Editores, p. 34